Fernando Távora : olhar e tempo

Abstract

O olhar sensível sobre o tempo municia em Fernando Távora uma perspectiva integradora e inclusiva da memória na produção da sua obra. Nos projectos de Fernando Távora assistimos à produção de uma identidade, de uma autoria que procura expressar a cultura de um povo e de um lugar, Portugal. Esta visão fenomenológica emerge a partir da contemplação de três projectos fundamentais na obra deste arquitecto. No Mercado de Vila da Feira assistimos a um discurso que afirma uma modernidade convicta e assumida, indelevelmente contaminada por alusões subtis à memória. A cultura, a memória enquanto herança e ferramenta implícita de construir o presente. A memória contamina tímida e quase subliminarmente a modernidade assumida no desenho e espaço do Mercado de Vila da Feira. Na Pousada de Santa Marinha o discurso da arquitectura emerge de um diálogo em que modernidade e memória se complementam reescrevendo a identidade preexistente, propondo um novo sentido ao todo. O desenho rege o diálogo entre a memória e contemporaneidade que explícitas estabelecem de modo coerente uma nova identidade espacial. Na Ampliação do Palácio de São Bento presente e memória fundem-se num só discurso que exacerba de modo eloquente a perenidade colectiva do fazer da cidade. Sob a batuta do desenho, memória e contemporaneidade plasmam-se indissociáveis para continuar sem ruptura o espaço da cidade. Na obra de Fernando Távora olhar e tempo fundamentam a génese narrativa de um discurso de arquitectura que convoca a memória enquanto elemento determinante. (Jorge Virgílio Rodrigues Mealha da Costa)