Regulação emocional, funcionamento cognitivo e desempenho escolar em crianças em acolhimento residencial e a viver com a família biológica

Abstract

As fragilidades na aprendizagem e desempenho escolar das crianças em acolhimento residencial encontram-se extensamente documentadas na literatura e têm fortes implicações na esfera social e política. É, por isso, crucial aprofundar a compreensão sobre as dimensões que contribuem para explicar estas fragilidades. O presente estudo tem como objetivo estudar a associação da regulação emocional, da labilidade negativa e do funcionamento cognitivo com o desempenho escolar em crianças em acolhimento residencial e em crianças que vivem com a família biológica. A amostra integra 94 crianças (46 em acolhimento residencial; 48 a viver com a família biológica), entre os 6 e os 10 anos (M = 8.30; DP = 1.00). A regulação emocional foi avaliada com recurso a Emotion Regulation Checklist (ERC). As competências cognitivas verbais e não verbais foram aferidas com os subtestes de Vocabulário e Cubos da Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças – 3ª edição (WISC-III). Para avaliar o desempenho escolar, mobilizou-se a Escala de Competência Académica das Escalas de Avaliação da Competência Social (SRSS). Observou-se que as crianças em acolhimento evidenciavam maior labilidade negativa e uma menor competência cognitiva verbal e não verbal do que as que viviam com a família biológica. Verificou-se, também, que as crianças entre os 9 e os 10 anos eram mais competentes nas duas dimensões do funcionamento cognitivo avaliadas do que as crianças entre os 6 e os 8 anos. Adicionalmente, observou-se que as crianças mais competentes na dimensão verbal e que exibiam menores níveis de labilidade negativa apresentavam um melhor desempenho escolar. Os resultados enfatizam a importância de proporcionar às crianças em acolhimento oportunidades de desenvolvimento das competências cognitivas verbais, mais estreitamente associados ao desempenho escolar, e das competências de regulação emocional para exponenciar o seu desempenho escolar.

Difficulties in learning and school performance among children living in residential care are extensively documented and have significant social and political implications. Therefore, further understanding the dimensions underlying these difficulties is crucial. This study aims to examine the association of emotional regulation, negative lability and cognitive functioning with school performance in children in residential care and children living with their biological families. The sample included 94 children (46 in residential care; 48 living with their biological families) aged between 6 and 10 (M = 8.30; SD = 1.00). Emotion regulation was evaluated with the Emotion Regulation Checklist (ERC). Non-verbal and verbal cognitive competencies were measured with the Vocabulary and Block Design subtests of the Wechsler Intelligence Scale for Children - 3rd edition (WISC-III). The Academic Competence Scale of the Social Competence Rating Scales (SCRS) was used to assess academic performance. Children in residential care exhibited greater negative lability and lower non-verbal and verbal cognitive competencies than those living with their biological families. Additionally, children aged between 9 and 10 were more competent in the two dimensions of cognitive functioning analyzed than children between 6 and 8. Furthermore, children who were more competent in the verbal dimension and exhibited lower levels of negative lability performed better at school. The results highlight the importance of providing children in residential care with opportunities to develop verbal cognitive skills, which are more closely associated with school performance, and emotional regulation skills to boost their academic success.