Funcionamento familiar e stress percebido em relação à COVID-19

Abstract

A pandemia COVID-19 implicou um ajustamento a nível pessoal, económico, social e familiar. Uma das medidas de segurança implementadas mundialmente foi o confinamento da população no domicilio. Com o seu mundo virado, as pessoas deram por si perante um conjunto de mudanças, de novas responsabilidades, medos e stressores. Com o tempo de interação no seio familiar aumentado, torna-se relevante aprofundar a compreensão do funcionamento das mesmas. Assim, este estudo teve como objetivo analisar a potencial relação entre o funcionamento familiar destas famílias e o stress percebido pelas mesmas em contexto de pandemia. Pretendia-se, ainda, verificar se existem diferenças entre estas variáveis nos vários momentos de recolha dos dados, inclusive em função do sexo e da situação profissional dos participantes. A amostra é constituída por 261 participantes com idades compreendidas entre os 17 e os 81 anos. O funcionamento familiar foi avaliado com recurso à versão portuguesa do Systemic Clinical Outcome Routine Evaluation (SCORE-15) e o stress percebido em relação à COVID-19 através do Illness Perception Questionnaire Brief COVID-19 (IPQ-B-C),. No momento avaliado não foi possível encontrar associações positivas entre ambas as variáveis. No entanto, conseguimos observar diferenças significativas entre ambas as variáveis em dois momentos distintos. Tanto o funcionamento familiar como o stress percebido em relação à COVID-19 pioraram ao longo do tempo, apesar do segundo não ter sido significativo. No que diz respeito às diferenças em função do sexo foi possível observar que os participantes do sexo feminino experienciaram níveis de stress mais elevados, apesar de não serem resultados estatisticamente significativos. Do mesmo modo, também não se observaram diferenças significativas entre estudantes universitários e os restantes indivíduos.

The COVID-19 pandemic implicated an adjustment at a personal, economic, social, and familiar level. One of the security measures implemented worldwide was the confinement of the population at home. With their world turned upside down, people found themselves facing a series of new changes, responsibilities, fears, and stressors. With the increased interaction time within the family, it becomes relevant to deepen the understanding of their functioning. Thus, this study aimed to analyze the potential relationship between the family functioning of these families and the stress perceived by them in the context of the pandemic. We also intended to verify whether there were differences between these variables at the different times of data collection, including in terms of sex and the professional situation of the participants. The sample consisted of 261 participants between 17 and 81 years old. Family functioning was assessed using the portuguese version of the Systemic Clinical Outcome Routine Evaluation (SCORE-15) and perceived stress in relation to COVID-19 using the Illness Perception Questionnaire Brief COVID-19 (IPQ-B-C). It was not possible to find positive correlations between both variables. However, we were able to observe significant differences between both variables at two different times. Both family functioning and perceived stress related to COVID-19 worsened over time, although the latter was not significant. Regarding gender differences, it was possible to observe that female participants experienced higher levels of stress, although these were not statistically significant. Likewise, no significant differences were observed between university students and other individuals.