Habitar a cobertura : a açoteia como elemento de qualificação espacial

Abstract

A presente dissertação é alusiva ao tema da cobertura habitável como espaço de expansão da área útil de um edifício num contexto social e urbano no século XXI. O intuito desta dissertação, não é a eliminação das coberturas inclinadas, mas sim que a cobertura plana seja considerada como um elemento de mais-valia no desenho arquitetónico, tanto para o edifício como para o tecido urbano, em contexto e lugar próprio, e como uma escolha sustentável adaptando-se às necessidades da cidade e do planeta nos dias de hoje. Foi baseado neste conceito de habitar o exterior, usando a cobertura dos edifícios como área útil, e a inclusão de um pátio interior no programa da habitação, que se desenvolveu o projeto de 5º ano, Tema I, e consequentemente motivou e levou ao tema desta dissertação. Desde muito cedo que a utilização da cobertura plana, também conhecida como Açoteia, foi uma das características da arquitetura das primeiras civilizações. É difícil falar da utilização das coberturas sem primeiro falar dos pátios interiores visto que, no início o pátio era a solução encontrada para que o exterior fizesse parte da área doméstica sem que para isso se tivesse que sair do perímetro da residência. Mais tarde, na arquitetura egípcia foi a necessidade de se refrescarem nas noites quentes e como área social, que os levou a subir aos telhados ficando o pátio da casa reservado às lides domésticas, revelando a importância de se considerar o significado da cobertura plana na qualidade do habitar. Como tal, a estrutura deste trabalho foi divida em três partes, sendo a primeira, uma abordagem histórica de contextualização da Açoteia, abordando a sua utilização como expansão do espaço doméstico e familiar, sendo também feita uma abordagem à arquitetura mediterrânea com o exemplo de Portugal, mais precisamente no Algarve, com enfoque na particularidade da arquitetura do barlavento algarvio, com o caso das cidades de Olhão e Fuseta, devido à sua originalidade e por serem cidades com uma arquitetura que as distingue pela sua homogeneidade. No segundo capítulo, é apresentada a cobertura plana no contexto dos séculos XIX e XX, marcados pela revolução industrial e pela adaptação da sociedade e da arquitetura a uma nova forma de estar e habitar, e às novas necessidades sociais e urbanas que estas transformações acarretaram. É feita uma abordagem à arquitetura moderna e aos seus principais protagonistas que provocaram profundas alterações na forma de conceber, pensar e viver a arquitetura, influenciando as gerações que lhes seguiram, redefinindo a arquitetura e as cidades. É dado destaque a Le Corbusier, pelo seu fundamental contributo para a utilização das coberturas planas e do terraço-jardim, promovendo um espaço doméstico livre, sem barreiras e em contato com a natureza. No terceiro capítulo, são apresentados três casos de estudos da utilização da cobertura plana, como espaço de contemplação da paisagem, extensão da área doméstica e espaço de convívio e lazer, cada um deles com temporalidades diferentes, mostrando três arquitetos, que apesar do contexto arquitetónico em que se insere o projeto, deram preferência e importância à cobertura como um espaço tão vital para a casa como uma sala ou uma cozinha. Resumindo, esta dissertação tem como objetivo fazer uma alusão à aplicação da cobertura plana, como um elemento que adiciona qualidade tanto urbana como residencial, às cidades e às casas, não impondo, no entanto, o seu uso, sem regra nem exceção, uma vez que na arquitetura existe sempre um lugar e uma envolvente a considerar.

The present dissertation is alluding to the subject of dwelling the rooftop, as a space of expansion of the living area of a building in a social and urban context in the 21st century. The purpose of this dissertation is not the elimination of sloped roofs, but that the flat roof be considered as an element of added value in the architectural design, both for the building and for the urban fabric, in its own context and place, and as a sustainable choice adapting to the needs of the city and the planet today. It was based on this concept of inhabiting the exterior, using the roof of the buildings as a useful area, and the inclusion of courtyard in the housing program, that the 5th year project, Theme I, was developed and consequently motivated and led to the theme of this dissertation. From very early on, the use of the flat roof, also known as Azotea, was one of the characteristics of the architecture of the first civilizations. It is difficult to talk about the use of roofs without first talking about the courtyards, since, at the beginning, this patio was the solution found so that the outside would be part of the domestic area without having to leave the perimeter of the residence. Later, in Egyptian architecture, it was the need to cool off on hot nights and as a social area, which led them to go up to the roofs, leaving the courtyard of the house reserved for domestic chores, revealing the importance of considering the meaning of the flat roof in terms of quality of inhabiting. As such, the structure of this work was divided into three parts, the first being a historical approach to the contextualization of Azotea, addressing its use as an expansion of domestic and family space, and an approach to Mediterranean architecture with the example of Portugal, more precisely in the Algarve, focusing on the particularity of the architecture of the western Algarve, with the case of the cities of Olhão and Fuseta, due to their originality and for being cities with an architecture that distinguishes them by its homogeneity. In the second chapter, the flat roof is presented in the context of the 19th and 20th centuries, marked by the industrial revolution and the adaptation of society and architecture to a new way of being and inhabiting, and to the new social and urban needs that these transformations entailed. An approach is made to modern architecture and its main protagonists that have caused profound changes in the way of conceiving, thinking, and living architecture, influencing the generations that followed them, redefining architecture, and cities. Le Corbusier is highlighted for his fundamental contribution to the use of flat roofs and the garden terrace, promoting a free domestic space, without barriers and in contact with nature. In the third chapter, three case studies of the use of the flat roof are presented, as a space for contemplation of the landscape, extension of the domestic area and space for socialising and leisure, each with different temporalities, showing three architects, who despite the architectural context in which the project is inserted, gave preference and importance to the roof as a space as vital for the house as a living room or a kitchen. In summary, this dissertation aims to allude to the application of flat roofs, as an element that adds both urban and residential quality to cities and homes, without imposing its use, without rule or exception, since that in architecture there is always place and surroundings to consider.