O efeito do temperamento no ajustamento socioemocional de crianças institucionalizadas e não institucionalizadas

Abstract

O presente estudo pretende compreender o efeito do temperamento no ajustamento socioemocional numa amostra de crianças portuguesas institucionalizadas e não institucionalizadas. Neste estudo, participaram 92 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos (45 institucionalizadas e 47 não institucionalizadas). Procedeu-se a uma caraterização sociodemográfica da população através da aplicação de um Questionário Sociodemográfico e recorreu-se à aplicação dos seguintes instrumentos: School-Age Temperament Inventory (SATI) e o Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) os quais foram preenchidos pelos cuidadores principais das crianças institucionalizadas e pelos professores das crianças não institucionalizadas. Foi realizada uma regressão linear múltipla com vista a analisar o efeito do temperamento no ajustamento socioemocional. Foram analisadas as diferenças entre os dois grupos, e foi realizada uma outra análise de diferenças em função do género, mas dentro do mesmo grupo. No que respeita às diferenças entre os dois grupos, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas ao nível da Atividade, sendo que as crianças institucionalizadas pontuaram níveis significativamente superiores em relação às crianças não institucionalizadas. Os grupos foram considerados separadamente em função do género. No grupo das crianças institucionalizadas, os rapazes apresentaram níveis significativamente superiores comparativamente com as raparigas na dimensão da Atividade. Por seu turno, no grupo das crianças não institucionalizadas, verificam-se diferenças estatisticamente significativas ao nível da dimensão da Reatividade e da Atividade. Adicionalmente, os nossos resultados mostram que o Temperamento não é um preditor significativo do Ajustamento Socioemocional em crianças institucionalizadas e não institucionalizadas. O presente estudo contribuiu para a literatura científica que defende um investimento em intervenções individualizadas tendo em conta o perfil de temperamento de crianças institucionalizadas.

The present study aims to understand the effect of temperament on socio-emotional adjustment in a sample of institutionalized and non-institutionalized Portuguese children. Ninety-two children, aged between 6 and 10 years, were enrolled in this study (45 institutionalized and 47 non-institutionalized). A sociodemographic questionnaire was used to characterize the participants. The following questionnaires were used: the School-Age Temperament Inventory (SATI) and the Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) which were completed by the primary caregivers of institutionalized children and by teachers of non-institutionalized children. A multiple linear regression was performed to analyze the effect of temperament on socio-emotional adjustment. Differences between the two groups were analyzed, and another analysis of differences by gender was performed, but within the same group. Comparing the differences between the two groups, there were statistically significant differences in terms of Activity, with institutionalized children scoring significantly higher than non-institutionalized children. The groups were considered separately according to gender. In the group of institutionalized children, boys showed significantly higher levels compared to girls in the Activity dimension. In turn, in the group of non-institutionalized children, there are statistically significant differences in terms of the dimension of Reactivity and Activity. Additionally, our results show that Temperament is not a significant predictor of Socioemotional Adjustment in institutionalized and non-institutionalized children. This study contributes to the scientific literature that support individualized interventions, in particular considering the temperament characteristics of institutionalized children.